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                                                                     p/Rodrigo Augusto Prando

Faleceu, hoje, 29/05/20, o jornalista Gilberto Dimenstein. Vitimado por um câncer, partiu precocemente. Sua vocação jornalística aliava-se à sensibilidade social expressa em seus artigos e livros.

A trajetória profissional liga-se ao jornal Folha de S. Paulo e foi, também, foi premiado por duas ocasiões com o Prêmio Esso e, ainda, recebeu o Prêmio Jabuti de melhor livro de não-ficção. Idealizou o Catraca Livre cuja missão é usar a comunicação para empoderar o cidadão. Rememoro, sempre, o final de minha adolescência e o início da fase adulta já na universidade com os livros e textos jornalísticos de Dimenstein. Como membro juvenil do Movimento Escoteiro - enquanto Pioneiro - sempre recebia de minha Mestra, a Tânia, os recortes de jornal, muitos já sublinhados e, ali, sempre constava as matérias redigidas por Dimenstein. Assim, meu contato com os jornais não era de assinante e sim de quem ou lia na biblioteca pública ou porque recebia de uma amiga. Isso, contudo, me marcou.

Depois, fui conhecer os livros "O cidadão de papel", "Meninas da noite", "A república dos padrinhos" e "Fomos maus alunos", esse em parceria com Rubem Alves. Mais do que as informações e ideias presentes no texto de Dimenstein, eu me preocupava em entender a forma, a construção de seu texto, tamanho dos parágrafos, concatenação entre as partes, enfim, tudo o que podia aprender para tentar - era só tentativa mesmo - melhorar meus escritos no final do colegial e nos primeiros anos da universidade, cursando Ciências Sociais. Vi, não faz muito, creio que via alguma rede social, Dimenstein pedindo desculpas ao Marcelo Tas, provavelmente, por algum entrevero anterior que, confesso, nem quis saber qual foi.

Para mim, o bonito foi o pedido de desculpas, reconhecendo um erro; bonita foi a resposta de Tas reconhecendo a grandeza do ato e considerando o episódio superado. Fiquei tocado, emocionado mesmo, pois sabendo que partiria em breve, Dimenstein não quis deixar essas desculpas pendentes. A morte tem estado, infelizmente, presente no Brasil e no mundo nestes últimos meses. Dimenstein se foi, mas deixou um legado. Sua existência, com erros e acertos, foi vivida dentro de seus valores e ideais, na profissão de jornalista que, também nos últimos tempos tem sido vilipendiada.

Que descanse em paz. E, neste singelíssimo texto, registro meu agradecimento pelos ensinamentos que sua escrita me trouxe, seja como cidadão, seja como sociólogo. Meus sinceros sentimentos de condolência aos familiares e amigos enlutados. Fará falta, por certo.

Rodrigo Augusto Prando é professor e pesquisador da Universidade Presbiteriana Mackenzie, do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas. Graduado em Ciências Sociais, Mestre e Doutor em Sociologia, pela Unesp de Araraquara.

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