Home


Passados oito dias da eleição presidencial nos EUA e faltando 70 dias para a transição, o presidente americano, Donald Trump, faz da Casa Branca um forte político, de onde move a máquina do Executivo contra o presidente eleito, Joe Biden.
Trump se recusa a aceitar o resultado conquistado no dia 7 de novembro pelo adversário, enquanto Biden, proclamado vencedor e reconhecido como tal por todos os líderes das potências mundiais, tenta preparar sua equipe de transição. À medida que o tempo passa, crescem as incertezas sobre como os EUA vão sair desse impasse.
Em termos formais, a eleição realizada em novembro ainda não tem contagem de votos concluída, por conta da chegada atrasada de votos postais. Pelo sistema de eleição indireta dos EUA, os votos contados até agora já correspondem ao número de delegados suficientes para proclamar a vitória de Biden no colégio eleitoral. São necessários 270 dos 538 delegados para ser eleito. O candidato do Partido Democrata já tem pelo menos 290.
Esses delegados se reunirão em Washington no dia 14 de dezembro para proclamar o resultado, de maneira formal. A partir daí, o Congresso costuma reconhecer o novo presidente em 6 de janeiro e a transmissão de cargo ocorre no dia 20 de janeiro de 2021.
O atual presidente dos EUA se recusa, entretanto, a aceitar o resultado das urnas, pede na Justiça a recontagem de votos e se proclama vencedor. Enquanto não chega o momento de entregar o cargo, Trump faz uso dos três meses que tem pela frente, até a transição, para minar sistema e dificultar o trabalho dos assessores de Biden envolvidos na preparação da chegada do adversário à Casa Branca.

‘Não haverá mudança’
A declaração mais contundente foi dada até agora pelo secretário de Estado americano, Mike Pompeo, que na terça-feira (10) disse a jornalistas em Washington que Biden simplesmente não vai assumir. “Haverá uma transição suave para um segundo mandato de Trump”, disse o chefe da diplomacia americana.
O presidente do Senado, o republicano Mitch McConnell, endossa a desconfiança de Trump sobre o resultado da apuração, mas é menos assertivo na hora de dizer que o republicano venceu. Para McConnell, é preciso esperar a reunião do colégio eleitoral, em 14 de dezembro, para conhecer o vencedor.
Seja em posições mais enfáticas, como a de Pompeo, ou menos enfáticas, como a de McConnell, o fato é que membros do primeiro escalão do Partido Republicano e do governo Trump estão colocando empecilhos para a transição.
Esses empecilhos vão além dos discursos. 
A administração Trump se recusa a liberar as salas e demais estruturas físicas necessárias para que a equipe de transição de Biden possa trabalhar. Além disso, o governo retém as verbas existentes para esse fim, dizendo que elas só serão liberadas quando houver um resultado definitivo da contagem dos votos.
Além disso, Trump está demitindo altos funcionários do governo, como o secretário de Defesa, Mark T. Esper, além dos diretores de três postos estratégicos dentro do Pentágono. O jornal americano The New York Times diz que o expurgo deve afetar ainda a CIA, agência de inteligência americana, e o FBI, equivalente à Polícia Federal brasileira, numa tentativa de blindagem de seu mandato.

Sem cordialidade
Tradicionalmente, o candidato derrotado nos EUA faz um discurso saudando o vencedor, assim que as projeções computadas pelos estados e divulgadas pela imprensa apontam um ganhador. Se o derrotado está na presidência, ele convida o vencedor para ir à Casa Branca. Esses gestos dão início a um período de transição coordenada.
Desta vez, no entanto, Trump não fez nenhum desses movimentos. Biden disse que a situação é “embaraçosa” para os EUA, uma potência que com frequência usa a justificativa da exportação de seu modelo de democracia para intervir em países estrangeiros.
A postura de Trump não fragiliza a posição americana apenas diante dos olhos do mundo, mas principalmente no interior do país. Pesquisa feita pelo site Politico e pela empresa Morning Consult mostrou que 70% dos eleitores do Partido Republicano acreditam nas teses conspiracionistas difundidas por Trump a respeito de fraudes não comprovadas nas eleições.
“Eu nunca imaginei que veria algo assim nos EUA”, disse Michael J. Abramowitz, presidente da Freedom House, uma organização sem fins partidários que monitora a qualidade da democracia em todos os países do mundo. “O que nós temos visto nas últimas semanas, por parte do presidente, é algo parecido às táticas adotadas por líderes autoritários”, complementou.

Link para matéria: https://www.nexojornal.com.br/expresso/2020/11/11/Como-Trump-faz-da-Casa-Branca-um-bunker-antitransi%C3%A7%C3%A3o
© 2020 | 

Poste um comentário

comente aqui..