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"A obra explica, unindo o rigor da ciência e a arte da comunicação, como o Brasil se tornou a capital mundial do negacionismo durante a pandemia de Covid-19."
Pedro Hallal , epidemiologista


Em setembro, a editora Paraquedas, selo da Claraboia, lança o livro “Cloroquination - Como o Brasil se tornou o país da cloroquina e de outras falsas curas para a covid-19", da jornalista Chloé Pinheiro e do farmacêutico e doutor em Ciências pela UFRJ Flavio Emery. É o primeiro livro que mapeia em profundidade as movimentações políticas, sociais, econômicas e científicas que aconteceram para tornar o Brasil o epicentro do fenômeno.

O evento de lançamento será dia 15 de setembro, às 19h, em São Paulo, no Tapera Taperá (Av. São Luís, 187 - 2º andar, loja 29 - República), com um bate-papo com os autores.


No último ano, os dois profissionais conversaram com mais de 30 protagonistas dessa história: políticos, médicos, cientistas, psicólogos, sociólogos, pacientes, vítimas e advogados. Entre eles, nomes como Luiz Henrique Mandetta, Natalia Pasternak, Pedro Hallal, médicos da Prevent Senior e da Hapvida e outros personagens importantes.


“A eles, perguntamos: haveria um kit Covid sem a forte atuação do governo federal? E descobrimos que, infelizmente, é provável que vivêssemos algo parecido. Ora, várias das bases do fenômeno fazem parte de uma cultura antiga no país, perpetuando-se diante das doenças crônicas para as quais nem sempre há tratamentos eficazes”, escrevem os autores de “Cloroquination”. “Nada disso é novo. Contudo, o aparelhamento do Estado em favor de uma cura mágica deu outra dimensão à coisa. Sua rede bem engendrada de desinformação fez o kit covid transformar-se em símbolo do Brasil nos anos 2020-22: uma ferramenta de poder, uma bandeira a ser defendida por um séquito de fiéis. Enfim, a cloroquinação de todo um país como um processo em que se misturam ignorância, estupidez e má-fé”, apontam.


Ao longo dos capítulos, eles mapeiam e relacionam diversos fatores que colaboraram para a ampla difusão de remédios ineficazes e outras soluções anticientíficas, culminando na morte de milhares de brasileiros durante a pandemia de covid-19. Entre eles, pesa a atuação de uma classe médica corporativista, com formação científica deficitária; a penetração da pseudociência na política e nas universidades, que já havia sido notada com o escândalo da fosfoetanolamina, a chamada “pílula do câncer”; a vontade do brasileiro de acreditar em algo mesmo quando evidências apontam o contrário; uma relação banalizada e quase religiosa com os remédios; o uso de cobaias para experimentos de "tratamentos precoces”; a desinformação disseminada online; e, acima de tudo, o fato de ter muita gente lucrando com tudo isso.


“A aposta de remédios ineficazes, como a cloroquina, e a negação das vacinas, não são apenas efeitos colaterais da desinformação, mas sintomas de uma crise institucional profunda, que ameaça as bases da nossa democracia e coloca em risco à população, ao transformar a saúde pública em uma mera arena da guerra ideológica”, escrevem.

Além do “kit covid”, no entanto, os autores de “Cloroquination” frisam que há fatos mais estarrecedores e menos conhecidos a serem registrados e investigados. “É o caso dos experimentos irregulares contra a covid com medicamentos para câncer de próstata avançado (alguns não aprovados sequer para seu uso original), os acordos feitos com dinheiro público, os investimentos de farmacêuticas em publicidade irregular, a aposta em cloroquina em vez de oxigênio para solucionar o colapso de Manaus, que matou ao menos 30 pessoas sufocadas em dois dias, entre tantos outros exemplos”, exemplificam, na obra.

A realização do livro foi possível graças a uma bolsa para a produção de trabalhos jornalísticos em temas de ciência, a qual foi concedida para Chloé Pinheiro pela Fundación Gabo e pelo Instituto Serrapilheira, com o apoio do Escritório Regional de Ciências da Unesco para a América Latina e Caribe.


“Cloroquination” em números
Só no Brasil, até junho de 2021, entre 120 mil e 400 mil mortes poderiam ter sido evitadas, apontam estimativas feitas pelo epidemiologista Pedro Hallal, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Ou seja, quatro em cada cinco pessoas poderiam estar vivas;

Ivermectina
Apesar de menos falada pela imprensa, a ivermectina vendeu muito mais que a cloroquina. Só no primeiro ano de pandemia, o remédio para piolhos apresentou números astronômicos, chegando à demanda de 82 milhões de embalagens, muito à frente da hidroxicloroquina com 2,7 milhões;

A Prevent Senior, que adotou amplamente o uso do kit covid e chegou a ser investigada na CPI e em outras esferas, saiu sem nenhum ferimento dessa história. Ela ganhou 88 mil novos beneficiários entre março de 2020 e junho de 2021. Em 2020, o convênio faturou R$4,3 bilhões, um crescimento de 19% em relação a 2019, e teve lucro líquido de R$495 milhões, 14% superior ao ano anterior – bem acima da média do setor, 2,4%. Enquanto motoboys entregavam kits de remédios nas casas dos usuários sem sequer saber se eles tinham covid-19, o valor de mercado da empresa subiu 30%, resultado tão animador que permitiu sua planejada expansão;

Das 33 indústrias que produzem ao menos um dos componentes do kit covid, seis tiveram ganhos maiores que 500% em 2020, quando comparados ao ano anterior;

Dados da CPI mostram que, em 2020, somente os gastos públicos com cloroquina e hidroxicloroquina foram 16 vezes maiores do que em 2019, totalizando mais de 30 milhões de reais. Os gastos da União, considerando os outros medicamentos ineficazes, chegaram a R$ 90 milhões só até janeiro de 2021.



Mais sobre os autores



Chloé Pinheiro

Jornalista com mais de dez anos de cobertura de saúde e ciência. Atualmente, é repórter na revista Veja Saúde, da Abril, e já colaborou para veículos como UOL e Agência Fapesp. Em 2021, foi incluída no ranking de profissionais mais admirados da imprensa de saúde e bem-estar do Brasil elaborado pelo Einstein e pelo Portal Jornalistas e Cia.



Flavio Emery

Farmacêutico e doutor em Ciências pela UFRJ, desde 2008 é Professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto, da USP, onde coordena o grupo de pesquisa em química heterocíclica e medicinal (QHeteM). Foi Presidente da Associação Brasileira de Ciências Farmacêuticas (ABCF, 2019-2020) e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (2018-2022).



com.tato - curadoria de comunicação
Assessoria de imprensa do Cloroquination
Jornalistas responsáveis: Karoline Lopes e Marcela Güther
Contato: marcela@comtato.co ou (47) 9.9712-5394

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