*Carlos Nobre
Em discurso recente sobre a BR-319, que liga Manaus a Porto Velho, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, disse que a obra de pavimentação precisa passar por um estudo técnico baseado em dados e evidências científicas de viabilidade econômica e ambiental.
Marina defendeu que a obra poderia levar à destruição de áreas protegidas, causar desmatamento e aumentar o risco de doenças e atividades ilegais. Os favoráveis ao asfaltamento argumentam que haveria redução no isolamento de Amazonas e Rondônia, beneficiando 4,5 milhões de pessoas.
Essa discussão permeia um debate antigo sobre o processo de licenciamento para grandes empreendimentos no Brasil e na Amazônia, como pavimentação e abertura de estradas, exploração de petróleo, mineração e agropecuária.
O processo de licenciamento ambiental, embora frequentemente criticado por sua suposta lentidão e burocracia, é essencial para avaliar os impactos de empreendimentos com efetiva ou potencial poluição ou degradação ambiental e propor medidas preventivas, mitigadoras ou compensatórias. Em última instância, o licenciamento é uma resposta do Estado às reivindicações da sociedade organizada pela qualidade ambiental.
O licenciamento ambiental é uma ferramenta para prevenir danos e maximizar os benefícios. Ele permite aos órgãos competentes acompanhar a evolução do empreendimento durante sua operação e, em caso de inconformidades, exigir ações corretivas e de responsabilização ambiental da empresa licenciada.
O debate sobre a exploração de petróleo na bacia da foz do Amazonas, especialmente no bloco FZA-M-59, que fica a cerca de 175 quilômetros da costa do Amapá e a 540 quilômetros da foz do rio Amazonas, levanta mais uma vez a disputa pelo bem comum, reconhecendo que a preservação ambiental é uma questão pública.
No Espírito Santo, por exemplo, revelou-se que os recursos da exploração de petróleo e gás não resultaram em melhorias significativas nos indicadores de desenvolvimento dos municípios.
A exploração de recursos naturais em regiões sensíveis como a Amazônia afeta compromissos climáticos e agrava desigualdades, enquanto alternativas energéticas sustentáveis permanecem subutilizadas, apesar de seu crescente potencial. Existem riscos de danos socioambientais irreversíveis associados a grandes empreendimentos como esse.
Considerando tais riscos, é fundamental questionar: o que está realmente em jogo? Existe um paradoxo evidente ressaltado por especialistas: apesar de a Amazônia produzir energia por meio de grandes hidrelétricas, essa eletricidade é majoritariamente exportada para outras partes do país. Enquanto isso, a própria Amazônia sofre com déficits no fornecimento de energia e depende, em grande parte, de combustíveis fósseis para atender às suas necessidades locais.
Uma transição energética responsável e de infraestrutura de baixo impacto é viável e necessária para evitar um colapso do sistema social, ecológico e climático.
Apesar de avanços importantes na agenda ambiental brasileira, especialmente no combate ao desmatamento e à degradação dos biomas, pressões políticas de setores dominantes têm promovido retrocessos significativos, como é o caso da Lei Geral do Licenciamento Ambiental (PL 2.159/2021), aprovada pelo Senado na última quarta-feira.
A FPA (Frente Parlamentar Agropecuária), representada por 59% da Câmara dos Deputados e 62% do Senado Federal, tem liderado uma série de ações que fragilizam a governança socioambiental, como o esvaziamento do Ministérios do Meio Ambiente e Mudança do Clima e do Ministério dos Povos Indígenas, a defesa da tese do Marco Temporal e a tramitação do PL 3.334/2023, que propõe reduzir de 80% para 50% a Reserva Legal na Amazônia em determinados municípios.
Essas iniciativas colocam em risco conquistas ambientais históricas e demandam vigilância constante da sociedade civil.
O lobby do agronegócio e do setor de petróleo deve atuar fortemente durante a COP30, que será realizada na Amazônia, com o objetivo de moldar o discurso climático em favor de seus interesses. Essas indústrias tendem a adotar estratégias que minimizam os impactos ambientais de suas práticas e reforçam a ideia de que são "parte da solução" para a crise climática e social.
Com forte influência na política nacional, esses setores vêm tentando reconfigurar a agenda de política externa brasileira, especialmente em fóruns internacionais, buscando suavizar pressões ambientais e priorizar acordos comerciais. O resultado evidencia como eles vêm influenciando e moldando a atuação do Brasil no cenário global.
Em discurso recente sobre a BR-319, que liga Manaus a Porto Velho, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, disse que a obra de pavimentação precisa passar por um estudo técnico baseado em dados e evidências científicas de viabilidade econômica e ambiental.
Marina defendeu que a obra poderia levar à destruição de áreas protegidas, causar desmatamento e aumentar o risco de doenças e atividades ilegais. Os favoráveis ao asfaltamento argumentam que haveria redução no isolamento de Amazonas e Rondônia, beneficiando 4,5 milhões de pessoas.
Essa discussão permeia um debate antigo sobre o processo de licenciamento para grandes empreendimentos no Brasil e na Amazônia, como pavimentação e abertura de estradas, exploração de petróleo, mineração e agropecuária.
O processo de licenciamento ambiental, embora frequentemente criticado por sua suposta lentidão e burocracia, é essencial para avaliar os impactos de empreendimentos com efetiva ou potencial poluição ou degradação ambiental e propor medidas preventivas, mitigadoras ou compensatórias. Em última instância, o licenciamento é uma resposta do Estado às reivindicações da sociedade organizada pela qualidade ambiental.
O licenciamento ambiental é uma ferramenta para prevenir danos e maximizar os benefícios. Ele permite aos órgãos competentes acompanhar a evolução do empreendimento durante sua operação e, em caso de inconformidades, exigir ações corretivas e de responsabilização ambiental da empresa licenciada.
O debate sobre a exploração de petróleo na bacia da foz do Amazonas, especialmente no bloco FZA-M-59, que fica a cerca de 175 quilômetros da costa do Amapá e a 540 quilômetros da foz do rio Amazonas, levanta mais uma vez a disputa pelo bem comum, reconhecendo que a preservação ambiental é uma questão pública.
No Espírito Santo, por exemplo, revelou-se que os recursos da exploração de petróleo e gás não resultaram em melhorias significativas nos indicadores de desenvolvimento dos municípios.
A exploração de recursos naturais em regiões sensíveis como a Amazônia afeta compromissos climáticos e agrava desigualdades, enquanto alternativas energéticas sustentáveis permanecem subutilizadas, apesar de seu crescente potencial. Existem riscos de danos socioambientais irreversíveis associados a grandes empreendimentos como esse.
Considerando tais riscos, é fundamental questionar: o que está realmente em jogo? Existe um paradoxo evidente ressaltado por especialistas: apesar de a Amazônia produzir energia por meio de grandes hidrelétricas, essa eletricidade é majoritariamente exportada para outras partes do país. Enquanto isso, a própria Amazônia sofre com déficits no fornecimento de energia e depende, em grande parte, de combustíveis fósseis para atender às suas necessidades locais.
Uma transição energética responsável e de infraestrutura de baixo impacto é viável e necessária para evitar um colapso do sistema social, ecológico e climático.
Apesar de avanços importantes na agenda ambiental brasileira, especialmente no combate ao desmatamento e à degradação dos biomas, pressões políticas de setores dominantes têm promovido retrocessos significativos, como é o caso da Lei Geral do Licenciamento Ambiental (PL 2.159/2021), aprovada pelo Senado na última quarta-feira.
A FPA (Frente Parlamentar Agropecuária), representada por 59% da Câmara dos Deputados e 62% do Senado Federal, tem liderado uma série de ações que fragilizam a governança socioambiental, como o esvaziamento do Ministérios do Meio Ambiente e Mudança do Clima e do Ministério dos Povos Indígenas, a defesa da tese do Marco Temporal e a tramitação do PL 3.334/2023, que propõe reduzir de 80% para 50% a Reserva Legal na Amazônia em determinados municípios.
Essas iniciativas colocam em risco conquistas ambientais históricas e demandam vigilância constante da sociedade civil.
O lobby do agronegócio e do setor de petróleo deve atuar fortemente durante a COP30, que será realizada na Amazônia, com o objetivo de moldar o discurso climático em favor de seus interesses. Essas indústrias tendem a adotar estratégias que minimizam os impactos ambientais de suas práticas e reforçam a ideia de que são "parte da solução" para a crise climática e social.
Com forte influência na política nacional, esses setores vêm tentando reconfigurar a agenda de política externa brasileira, especialmente em fóruns internacionais, buscando suavizar pressões ambientais e priorizar acordos comerciais. O resultado evidencia como eles vêm influenciando e moldando a atuação do Brasil no cenário global.